Meu novo TTRPG: Mushitake!

Esse lugar está tão abandonado que começou a juntar insetos e fungos…

Espera aí… O que isso? Um post? Não só isso, é um post anunciando algo importante!

Capa por Ravena McGregor

Aproveitando o hype da nova série de The Last Us, eu quero mostrar a vocês um projeto que comecei a trabalhar ano passado como um mini desafio de game design e lentamente cresceu e se espalhou da mesma forma que os fungos e insetos que o inspiraram!

Mushitake RPG é o jogo mais fofo e cruel que você vai conhecer!

Rápido de aprender e jogar, Mushitake RPG traz você a um mundo tão colorido quanto mortal, tendo como inspirações jogos como Darkest Dungeon, Hollow Knight e Cult of the Lamb.

Assuma o controle de um enxame de pequenos guerreiros Mushitake e viaje pelas diferentes áreas de um mundo subterrâneo! Enfrente os mais diversos monstros que misturam a fantasia e a biologia de uma forma única, cresça e ascenda a sua forma final!

Um poderoso Lorde te espera no final de cada camada. Será que você pode derrotá-los e ascender?

Você pode se aventurar pelo Subjardim de diferentes formas, seja no modo solo, cooperativo com outros jogadores ou narrado como um RPG tradicional!

O jogo conta com regras simples, mas com bastante profundidade

O financiamento coletivo para o livro completo e mais bonito acontecerá esse ano, mas você já pode baixar o Fast Play em acesso antecipado agora mesmo!

A Rota das Cachoeiras

Rodantha – Vingança de Presas Rubras

No dia seguinte a noite de celebração e descanso para os Grutos, Rodantha foi chamado logo cedo novamente. Ele estava de roupão, então escondeu a foice dentro da roupa e atendeu a porta. Era Loba, a humana ruiva, alta e muscular. Agora usando um tradicional vestido verde com mangas longas dos povos do norte gelado, com os cabelos presos em uma trança.

“Bom dia, Dantha!”
“Bom dia, Loba. Temos outra tarefa?”
“Não, ainda é nossa folga. Eu vim te levar para te dar que tanto queria.”

Rodantha ficou confuso. Ainda assim, ele confia em Loba agora, então trocou de roupa colocando um vestido preto com um sobretudo elegante por cima e sapatos simples. As duas andaram pelas ruas da cidade-estado conversando como amigas próximas. Olhando para a jovem, a bárbara via muito de si mesma em Rodantha. Ela notou também que os músculos da górgon estavam mais firmes agora, seu corpo mais bem definido pelo treinamento e as batalhas, pensando que talvez dia seria tão forte quanto ela ou Turi, embora fosse na agilidade que Rodantha se destacava mais, assim como Shandor.

“Sabe atirar Dantha?”
“Nunca tentei, mas acredito que conseguiria.”
“Hmm… Então por enquanto, melhor focar no que você sabe fazer. E chegamos!”

A loja era relativamente isolada, claramente o estabelecimento de um ferreiro, mas o mesmo não se encontrava presente trabalhando em sua bigorna no momento.

“Que estranho, Fred sempre acorda cedo pra trabalhar. He, aposto que se deu bem ou muito mal ontem a noite!”

Loba bateu na porta de madeira e esperou. Sem resposta, então bateu novamente. Ainda sem resposta. Uma terceira e quarta vez, cada uma mais forte, mas continuou sem resposta. Após alguns minutos, ela cansou de bater o punho na porta e a arrombou com um chute.

“Porra Fred! Atenda a maldita…”

Elas viram o humano muscular e branco de cabelos castanhos avermelhados caído no chão, inconsciente, seu avental sujo do sangue que respingava do seu pescoço.

“…Porta. Fred…? Fred!”

Loba correu para perto dele e começou a pressionar a ferida dele com a mão, completamente desesperada.

“Frederick!! Não brinca comigo irmão!!”
“Loba…”

Rodantha estendeu a mão no intento de tocar o ombro dela, mas recuou nervosa.

“Não fica parada aí, vai chamar ajuda!”
“Loba, ele…”
“Cala-boca!!”

Rodantha viu o rosto de Loba mudar por um momento, seu nariz enrugou e os dentes caninos cresceram. Ainda assim, a górgon não apresentou muita expressão além do que parecia uma leve surpresa. Rodantha se aproximou com cautela e se ajoelhou ao lado de sua amiga, ainda com receio de colocar a mão sobre ela, mas tomando coragem, colocou a mão no ombro de Loba. Nesse momento a bárbara desabou em prantos sobre o corpo do seu irmão. Ela chorou e urrou em tristeza e raiva. Ela se culpava. Acreditando que o mataram para a atingir ou tentando chegar até ela. A vida do crime havia cobrado seu preço para Loba mais uma vez.

Loba se levantou chorando e furiosa.

“PORRA!! Por que não eu?! Por que são sempre as pessoas que eu amo que vão embora?! Hudra! Workun! Por que vocês não me levam no lugar deles?!”

Ela bateu as mãos sobre a mesa, quebrando a plataforma de madeira no meio. Rodantha apenas se afastou a princípio sem saber como conter Loba, então chegou a conclusão de que ela iria tornar a investigação mais difícil, baseado no que sabe. Agindo a contragosto, a górgona agarrou Loba antes que ela quebrasse mais alguma coisa. A bárbara ia atacar Rodantha, mas percebeu o que estava prestes a fazer, então se acalmou e abraçou a amiga de volta, deixando Rodantha bem desconfortável.

“Ei… É… Obrigada.”
“Está me sufocando.”
“Desculpa pirralha…”

Ela soltou Rodantha. Não era um abraço tão forte de fato, mas elu achou que Loba não entenderia seu desconforto se fosse sincera.

“Caralho… Ele era meu irmão. Minha última família, meu último laço de sangue. Agora… Só resta eu.”
“Sinto muito Loba.”

Rodantha se aproximou do corpo e olhou melhor a ferida. Um corte na jugular, como se tivesse sido mordido por um animal. Sangrou até a morte, pensou a górgona. Ela olhou olhou para o abdômen.

“Loba, eu posso tocar nele?”
“Tocar…?”
“Quero ver se tem mais alguma ferida. Eu nunca tive nenhum treinamento profissional, mas acho que sei uma coisinha ou outra sobre o jeito que os Espetos trabalham de tanto ler.”

Loba ficou séria, secou suas lágrimas e confirmou com a cabeça com um olhar ríspido. Rodantha sacou sua foice.

“Ei, o que pensa que tá fazendo?!”
“Você é irmã dele. Se alguém da guarda pegar sua essência nele é menos suspeito do que se pegarem a minha. Eu estou evitando deixar rastros.”

Rodantha usou a lâmina como espátula para delicadamente mexer nas roupas do cadáver, tentando não danificar muito mais a cena, procurando por marcas. O abdômen por baixo das roupas parecia intacto. Um predador teria comido a barriga… Isso foi assassinato, pensou Rodantha. Haviam marcas nos braços e rasgos mas mangas mostrando que tentou se defender.

“Onde aprendeu isso afinal?”
“Minha mãe tem um interesse bizarro no assunto. Colecionava e escrevia livros de investigação criminal e eu lia escondido quando morava com ela.”

Loba não conseguia deixar de se sentir desconfortável vendo Rodantha mexer no cadáver de seu irmão com tamanha frieza no olhar e nos atos. As serpentes na cabeça da górgona farejavam o ar e olhavam ao redor a mantendo alerta. Por fim, a jovem medusiana se levantou olhando pro chão, seguindo um rastro em silêncio. Loba não notou antes devido o choque, mas havia sangue no chão, não muito antigo, fresco o suficiente para ela farejar se mudasse de forma. Se mudasse de forma…

“Rodantha!”
“Hm?”
“Eu acho que tenho um suspeito.”
“Se disser que é você, eu já pensei nisso.”

Loba sentiu uma pontada no peito.

“Como assim?”
“Anos atrás havia um lobisomem em minha cidade-estado natal e um caçador de monstros itinerante veio para matar ele. Eu tive que cuidar da filha dele, ela gostou de mim, não sei porquê. E… Bem, ela foi atrás do pai quando me distraí.”

Rodantha continuou a andar enquanto contava a historia para Loba.

“Corri atrás dela e me escondi junto com a menina enquanto o pai brigava com… Para falar a verdade aquilo mau parecia um lobo, era diferente de você. Em resumo, pude ver em primeira mão do que você é capaz se perder o controle. Isso aqui estaria bem mais sujo se fosse você, Loba.”

Ele para na janela onde o rastro termina e olha para trás vendo a bagunça que Loba fez ao ver seu irmão assassinado.

“Quer dizer… Desde antes da gente chegar.”

Loba se aproximou segurando o próprio braço direito com as bochechas coradas e lágrimas nos olhos. Com seu tamanho, musculatura e atitude de guerreira mais velha, era até estranho para Rodantha ver Loba se expressar daquela forma agora. Logo em seguida, ela abraçou o górgon chorando enquanto Rodantha batia os dedos na cintura e suas serpentes se agitavam.

“Ei ei! C-Calma, foco! Por favor!”
“Obrigada. Nós viemos para cá porque sou assim… Porque tinham medo de mim.”
“Entendo… Eu também tive que deixar a terra onde nasci.”

Após Loba soltar Rodantha, elas pularam a janela e continuaram a seguir o rastro de sangue deixado no chão. Quando acreditava não havia ninguém olhando, Loba se abaixou e farejou o rastro como um canino faria. Ela percebeu que aquele não era apenas o cheiro de sangue se seu irmão, quem fez aquilo havia se ferido também. Loba suspirou agradecida sabendo que seu irmão atravessou os Portões da Glória se juntando aos guerreiros fantasmas de Workun Pai-de-Guerra e não se tornou mais um espectro em Hulahelm.

“Espere!”

Rodantha percebeu algo. As serpentes em sua cabeça pareciam sentir algo estranho no ar. Ela se escondeu atrás da parede e fez apenas uma das serpentes olhar, vendo dois humanos de pele branca e corpos musculares, um de cabelo loiro longo e barba e outro com cabelo castanho médio e raspado nas laterais, vestidos em roupas de pele e metal.

“Njörfólk. Dois manu. Um loiro barbudo e um castanho de lateral raspada.”
“Porra!!”

Loba praguejou em plenos pulmões. Os dois homens se viraram para direção delas ao ouvirem a voz de Loba e sacaram suas armas. O loiro tinha um par de machados e o castanho uma espada longa.

“Sýnad Ylgr!”

Rodantha não entendeu o que o homem de cabelo castanho disse, mas viu Loba rosnar. Ela tentou segurar o braço da guerreira, mas não adiantou.

“Sten und Frode.”

Loba cuspiu logo após citar os nomes.

“Conhece eles?”
“Eram meus irmãos de guerra…”
“Até você virar uma besta selvagem!”

Sten, o loiro, apontou seu machado para Loba.

“Vocês mataram o Frederick!”
“Igual você matou Yugodif e os outros!”
“Sangue por sangue, Ylgr!”

Loba berrou com lágrimas nos olhos e partiu para cima deles desarmada, porém suas mãos se tornaram maiores e peludas com poderosas garras no meio do caminho. Rodantha agiu logo em seguida sacando sua própria lâmina e atacando pela esquerda, obrigando Sten a cabeça escolher um lado para se defender. Sten decidiu aparar o golpe da foice de Rodantha com seu machado enquanto confiava que Frode iria golpear Loba pela direita, porém Loba atacou Frode e não ele e Rodantha usou seu olhar invés de golpear com a lâmina.

Frode aparou o ataque de Loba segurando a espada lateralmente e apoiando a lâmina contra a palma enquanto Sten foi paralisado. Antes da mulher-lobo ou da górgona atacarem novamente, Sten girou no próprio eixo cortando a besta lateralmente, se posicionando entre seu parceiro e o monstro com serpentes na cabeça. A górgona envenenou sua foice e golpeou com a lâmina curva duas vezes, mas nenhum de seus ataques acertaram Frode, mas isto serviu de distração para que a besta humanoide o atacasse com uma mordida e destruísse seu braço esquerdo.

Sten acordou do seu transe com o grito de dor de Frode.

“Frode!!”

Ele bateu com o machado no rosto de Loba a ferindo, mas ela não se importou e arrancou o braço de Frode com um movimento brusco. Rodantha viu a cena em primeira mão e agora não era mais choque ou medo que sentia, mas uma profunda inspiração, uma motivação para fazer o mesmo. Ela pulou para esquerda e chutou a parede para pegar impulso e logo em seguida dar uma joelhada em Sten enquanto cortava o pescoço de Frode!

Sten recuou ainda caído e se levantou com as mãos tremendo vendo Frode no chão.

“Frode!! Frodee!!!”

Ele era apenas uma guerreiro medíocre. Nunca se destacou como um herói de guerra, mas também não era um atraso para sua tripulação. E desde cedo Frode esteve ao seu lado. Desde quando eram garotos, desde quando dividiram as primeiras canecas de hidromel. Cada momento que dividiram em batalha e fora dela acabará ali na mão de duas monstruosidades. Pobre Frode. Teria ele se tornado um fantasma no exército de Workun sua alma também foi tomada por algo terrível ao ser morto assim? E que destino aguardava Sten agora? Cheio de desespero e dor, ele se recusou a morrer na mão de aberrações como elas.

“PAI-DE-GURRA, OLHE POR MI–“

E com um tiro na cabeça ele caiu. Nada de glória. Nada de mais batalhas épicas cheias de golpes e técnicas de combate. Apenas um estouro e então o silêncio.

E quem atirou logo se revelou. Uma górgona mais velha, na faixa dos seus 40 anos, protegida por uma couraça e armada com a grande maravilha da tecnologia que garantiu aos elfos das profundezas um império militarizado vasto e poderoso. Apesar do nome herdado de tempos mais antigos, a maior arma dos Espadas não eram seus sabres que carregavam na cintura finos com grande orgulho, mas os mosquetes e pistolas capazes de perfurar armaduras melhor do que flechas e lanças fariam.

A górgona recarregou sua pistola com uma bala e apontou para as duas.

“Então é nisso que você se meteu, Rodantha?”

O Caçador de Monstros e A Fera De Cirana

Nétshe, caçador de monstros, já estava se acostumando a viajar de cidade-estado em cidade-estado usando os trems e barcos que conectam todo o Império Argênteo junto com a pequena criança gnoma que adotou, Irúla. O caçador é um hakin, um ser nascido com a aparência de um diabo, porém ainda um mortal, de pele azul clara, seus olhos tem esclera preta com íris vermelhas e pupilas verticais, cabelos pretos lisos e curtos que passam para o branco na metade inferior, cavanhaque típico da moda do império onde nasceu e vive, chifres voltados para trás crescendo a partir de sua testa e um cauda forte terminando uma ponta de seta de abas arredondadas dando uma forma semelhante a um coração, vestido com roupas sóbrias compostas por uma armadura de couro batido preto, calças roxas escuras e botas pretas por baixo de um sobretudo azul escuro. A menina gnoma cantarolando em seu colo parecia uma boneca pela diferença de tamanho, com pele negra de tom marrom, grandes cabelos cacheados e orelhas pontudas curtas e vestida com um vestido rosa com laços e estampa de cavalos pretos. Seus olhos castanhos são curiosos e atentos, sempre olhando ao redor de Nétshe como se ele estivesse sendo acompanhado e ele de fato estava, assombrado pelos fantasmas dos pais da garota que morreram em um acidente por sua causa no passado.

Neste momento estavam chegando na cidade-estado de Cirana, ao noroeste do império. As pessoas dessa região são conhecidas no resto do império pelo seu sotaque que poderia ser descrito como semelhante a uma mistura de russo e francês. A menina para de cantar quando seu pai adotivo para em frente a um quadro de avisos e fica olhando as figuras e símbolos, treinando para aprender a ler.

—I… R… La… —Disse a gnoma apontando para as letras enquanto seu pai lia em silêncio.

Ela desiste após alguns minutos e se volta para o papel que seu pai pegou. Ela não entendia nada, mas logo seu pai leu em voz alta enquanto pensava. O contrato dizia que uma criatura vem atacando a noite periodicamente a cerca de três meses, os animais da fazenda foram mortos e algumas pessoas também.

—Animais abatidos… Marcas de garras e presas… Ataques acontecem a noite… Lykantropos lupus. —O hakin disse enquanto relia o papel.
—Isso é vampírico, papai? —A gnoma perguntou.
—Hm? —Ele murmurou quando tirado de sua concentração —Não. Isso é a língua de Mythikós. Os magi nomeiam as coisas assim. —O pai respondeu sua filha curiosa.

Ele colocou a criança no chão, enrolou o papel e guardou no casaco. A menina estendeu as mãos para o alto pedindo colo novamente e o pai enrolou sua cauda em torno dela e a levantou para a altura de suas mãos novamente.

—Está bem, mas só porque ainda falta um pouco para o distrito dos nobres. —Nétshe tentou falar em um tom mais carinhoso, mas sua voz grave ainda soa rígida e cansada.
—Ela não pertence a você, sequestrador! Ela não pertence a você, sequestrador! —Diziam as vozes fantasmagóricas repetidamente em sua mente.

Nétshe respirou fundo e seguiu em frente ignorando os fantasmas. Ainda que fosse especializado em exterminar assombrações, Nétshe não era capaz de eliminar seus próprios.

Não demorou muito até que chegassem na região rica da cidade-estado, onde ainda mais pessoas olharam com desprezo ou medo o homem que se parece com um diabo, visivelmente armado com uma arma de haste nas costas e uma espada na cintura.

—Alto! —Exclamou o couraceiro elfo com enquanto sinalizava com a mão aberta —Aqui é um lugar de gente decente. Onde pensa que está indo? —O guarda disse com desprezo evidente e a mão pronta para sacar a garrucha.

Nétshe levantou a mão livre e a cauda, Irúla o imitou o gesto como foi ensinada, sem entender bem o motivo.

—Eu vim ajudar. —Nétshe falou encarando o guarda nos olhos —Nétshe Nesrvék, caçador de monstros. —Ele completou se apresentando.

O guarda bufou e olhou para criança, fazendo o pai instintivamente recolher a menina para próximo de si.

—Posso pelo menos colocar minha filha no chão?
—Sua filha? —O elfo fez uma expressão de surpresa —Vocês não raptam crianças para comer? —O guarda riu debochando de Nétshe ao citar lendas sobre hakins.
—Irúla, não repita o que eu vou fazer agora. —Nétshe disse entre os dentes.

Ele agarrou a mão direita do guarda com a cauda para o impedir de pegar a arma e puxou para baixo fazendo o queixo do elfo se chocar contra seu joelho. O soldado desmaiou com o golpe, mas logo outros vieram respondendo ao grito das testemunhas. Nétshe colocou a mão dentro do sobretudo e um dos soldados humanos ia atirar, mas sua capitã, uma górgona, impediu vendo que o hakin tinha uma criança no colo.

—Coloque a criança no chão e identifique-se! —Ordenou a capitã dos couraceiros.

Nétshe virou os olhos e colocou Irúla no chão como pretendia fazer antes.

—Nétshe, caçador de monstros! —Disse ele mostrando o contrato. —Podemos parar com isso e me deixarem ir até a propriedade dos O’ Mera?!

A capitã mandou todos seus couraceiros abaixarem as armas com um sinal de mãos e deu um passo a frente saudando o caçador cordialmente.

—Zerriza O’ Mera. Sou irmã de Volateus, o homem que procura. —Disse a górgona.

Zerriza é uma mulher muscular com elegância no andar e um forte sotaque cirano, de pele branca, olhos de cobra de cor verdes escuros cobertos por um par de óculos escuros e serpentes marrons crescendo no lugar de onde talvez teria um cabelo castanho, todas posicionadas para trás se acomodando no capacete adaptado e saindo para pela abertura traseira como se fossem parte da decoração do capacete.

—Dispensados! —Ordenou Zerriza —Este homem e sua filha estão sob minha proteção agora. —Ela completou, olhando diretamente para o soldado que estava despertando e pegando sua arma neste momento.
—Mas senhora Zerriza ele me agrediu! —Gritou o couraceiro de joelhos.
—Tolo! —Zerriza disse ao chutar o guarda para o chão novamente —Você é um Espada, pare de agir como criança! Isto é uma ordem!
—S-Sim senhora! Desculpe senhora! —O elfo respondeu prontamente e assustado.

Nétshe nunca concordou com os métodos, mas entende que eficiência militar de Cirana se deve muito as górgonas imigrantes de Dintara, que trouxeram sua cultura militarizada.

*****

Guiados por Zerriza, a dupla não teve mais problemas e chegaram a propriedade dos O’ Mera, que atualmente parecia muito menos opulenta do que já foi um dia. Os jardins pareciam descuidados, não haviam serventes a vista e para Irúla, algo no ar ali parecia transmitir emoções de melancolia, dor e conflito, era algo que ela podia sentir, mas não explicar.

—Papai, eu não quero entrar ai… —Irúla se colocou atrás de Nétshe segurando sua cauda com força.

Nétshe olhou para ela e se abaixou para ficar mais próximo.

—Tá tudo bem. —Nétshe disse fazendo carinho no rosto da filha. —Se tiver alguma coisa lá dentro, eu vou te proteger. Como sempre faço, não é?

Irúla sorriu confiando no seu pai e enquanto os fantasmas o chamavam de mentiroso, dizendo que era culpa dele ela estar em risco agora e que ele botou fogo na casa para levá-la. Após respirar fundo, ele se levantou, olhou para dentro da casa novamente e viu que tinha alguém estendendo os lençóis em um varal no jardim agora, uma criança de 13 ou 14 anos no máximo julgando pela aparência. Era levemente parecida com Zerriza, porém suas serpentes e seus olhos estreitos eram verdes como esmeraldas, além de ter esboçado pouca ou nenhuma expressão ao vê-los. A criança estava usando uma camisa bege larga com calças pretas presas por suspensórios, apenas mantendo o olhar fixo no trio enquanto suas serpentes se moviam agitadas.

—Rodantha, vai chamar seus pais! —Ordenou Zerriza em um tom menos rígido do que usou com seus soldados.
—S-Sim! —Respondeu a criança como se despertasse de um transe antes de voltar para dentro de casa.

Nétshe se lembrou dele mesmo na infância, uma garoto tímido como essa criança pareceu. Alguns minutos se passaram e o casal composto por um górgon parecido com Zerriza, de serpentes verde escuro e olhos verdes como sua criança, vestindo um paletó, chapéu fedora e calças bege e uma humana de pele clara, olhos e cabelos pretos lisos, usando um vestido roxo com motivos de flores de cerejeira. O homem trouxe a chave e abriu o portão.

—Muito prazer, sou o Barão Volateus O’ Mera. A julgar por suas armas, eu suponho que tenha vindo pelo contrato. —O górgon fez uma reverência cortes.
—Nétshe, caçador de monstros. —Nétshe se apresentou pela terceira vez este dia, já se cansando disso.
—Irúla, aprendiz de caçadora! —Disse a menina confiante.

O górgon levantou a sobrancelha enquanto Nétshe olhou para sua filha também surpreso, mas logo desconversou isso explicando que é sua filha adotiva e não uma aprendiz.

—Pois bem, é aqui que me despeço. —Disse a capitã dos couraçeiros —Se te importunarem durante ao trabalho, mostre isso. —Ela falou entregando um cartão com a insígnia das Espadas Ciranas.

O caçador e sua filha entraram na propriedade seguindo o dono da mansão até a porta onde a mulher humana os esperava. No caminho, Nétshe notou novamente os lençóis secando no varal, quando seu olfato treinado foi capazes de captar o odor de ureia trazido pelo vento.

—Estas são minha esposa Setsuko e minha filha Rodantha Eduarda. —Volateus apresentou sua família a Nétshe direcionando-se a cada uma com a mão —Estes são Nétshe e sua filha Irúla. Ele veio nos ajudar com o problema da fera que você viu. —O górgon concluiu as apresentações.

A jovem tímida permaneceu atrás de sua mãe, de cabeça baixa, agora estava usando um vestido preto e branco, com as serpentes ainda agitadas cuidadosamente amarradas como um rabo de cavalo de forma a não machucá-las.

—Obrigado por vir, senhor Nétshe. —A mulher disse enquanto fez uma reverencia cordial — Entre, vou preparar um chá e contar tudo que vi.

E assim o fizeram. Setsuko contou que avistou a criatura pela ultima vez a dois dias atrás, dizendo que parecia uma mistura de humanoide e besta, alternando entre se apoiar em quatro ou dois membros, com pelos pelo corpo e os olhos refletindo a luz como um cão ou gato. A garota levantou a mão esperando sua mãe terminar de falar e Nétshe lhe deu a palavra na primeira oportunidade, o que incomodou Setsuko.

—Eu também vi a besta. Estava no meu quarto e olhei pela janela quando ouvi o barulho. Nosso coelho, Yukito, estava na boca dele. —A garota falou em mono-tom, não parecia triste ou assustada.

Nétshe começou a suspeitar que há algo errado nessa casa além do monstro que invadiu a noite. Ele preferiu não dizer nada pois é algo além de suas capacidades e funções, mas Irúla, tão perceptiva como sempre, notou algo além das palavras e expressões.

—Papai, ela tá com dor. —A gnoma comentou bem baixo, se referindo a jovem górgona.
—O que quer dizer, Irúla?
—O coração dela… Tá doendo, mas não chora.

Os olhos vermelhos como rubis dentro de esferas pretas se cruzaram com os olhos verdes como esmeraldas e ela automaticamente desviou o olhar.

—Algo errado, senhor Nétshe? —Volateus questionou.
—Hm… Não. Eu acredito que seja mesmo um Lykantropos lupus.
—Antropo… Lupus…? Como um… Homem lobo?! —Volateus buscava em sua mente as línguas que conhece além do élfico.

Nétshe sacou seu velho caderno de anotações, pequeno suficiente para caber no bolso porém grosso, desgastado e cheio de páginas marcadas com lembretes. O caçador folheou e mostrou uma página ilustrações feitas por ele mesmo ou destacadas de jornais.

—Uma pessoa afetada pela maldição da lykantropia, tem o poder de se transformar em um lobo sedento de sangue. No sul do império chamam de “lobisomen”, mas por aqui devem conhecer como “werwulf” ou “kveldulf”.

A jovem górgona se aproximou e pegou uma das ilustrações com a imagem de uma viking com machados em mãos vestindo uma capa de lobo. Ela foi rapidamente repreendida pela mãe, porém Nétshe sinalizou que estava tudo bem com um aceno.

—Esse é o pior dos casos, ulfhéðinn. Um berserker amaldiçoado com lykantropia.

Um silêncio se seguiu enquanto a menina guardava o papel onde pegou.

—Se estiver tudo bem, eu gostaria de deixar minha filha Irúla passando a noite aqui enquanto eu caço a criatura esta noite.
—Sem problemas, ela pode dividir o quarto com Rodantha.

Nétshe viu as cobras de agitarem e olharem para o pai.

—Ela é um pouco tímida, do tipo que prefere livros e flores a pessoas. —Setsuko disse olhando para a filha.
—Eu também gosto de flores! Olha!

Irúla retirou seu próprio caderninho da mochila e mostrou os desenhos de diversas flores que encontrou no caminho.

—Eu tô colecionando.
—…Legal. —A jovem de olhos verdes disse timidamente.

A pequena gnoma sorriu e procedeu para se afastar dos adultos junto da górgona para conversarem e contar sobre sua coleção. As serpentes verdes lentamente se acalmaram e Rodantha esboçou um sorriso.

*****

Nétshe havia se preparado para enfrentar um werwulf, sua glaive de aço banhada em prata foi envenenada com Aconitum variegatum. Bestas não eram a especialidade de sua antiga guilda, mas todo caçador de monstros profissional de Faerog como ele sabe o suficiente sobre lykantropos para lidar com eles sem muita dificuldade.

A noite chegou. A lua cheia brilhava iluminando a escuridão, revelando os horrores que se escondem nas sombras. Nétshe meditou no jardim desde do fim da tarde esperando por esse momento, quando os grandes predadores noturnos iriam tentar invadir e consumir a carne e sangue daqueles que ele jurou proteger.

Ele se levantou e sacou sua glaive, ficando preparado para o ataque. Nétshe conseguia sentir a presença de monstros no local, dois dentro da casa e um se aproximando. Logo o odor de ureia chegou a suas narinas. Nétshe já ouviu histórias de imigrantes de Gao-Razil sobre feiticeiros que poderiam se transformar ao urinar ao redor de suas roupas e suspeitava que era algum tipo de lykantropia. Porém o cheiro vinha de dentro da casa.

—Droga, será que eu não percebi antes?

Enquanto isso, no quarto de Rodantha, a górgona estava chorando envergonhada e chorando baixinho, o que acordou Irúla também. A menor das duas rapidamente entendeu a situação e veio consolar a mais velha com carinho nas costas, o que surpreendeu Rodantha a fazendo recuar e suas cobras darem um bote felizmente sem conseguirem alcançar a mão da gnoma.

—Tá tudo bem. Isso também acontece comigo as vezes.—Não tá ajudando… Você é pequena e eu já tenho 13 anos!—É só tomar banho e trocar a coberta.
Irúla não tinha muita noção ainda, então simplesmente puxou a coberta e correu para fora para estender o lençol como viu Rodantha fazendo antes. A mais velha teve que correr atrás da menor tentando não fazer barulho, com medo de que seus pais iriam lhe bater pelo que aconteceu e por não cuidar da filha do caçador.

Logo que Irúla chegou na porta, ela parou pois não alcançava a maçaneta e saiu de perto para procurar uma cadeira ou outro objeto que pudesse escalar para alcançar, então uma grande massa se chocou contra a porta a arrombando e voando para dentro, destruindo a mobília. Irúla rapidamente se escondeu e Rodantha colocou as mãos na cabeça vendo sua casa sendo destruída. A jovem e nervosa górgona abraçou seus próprios ombros e se recolheu tremendo enquanto as serpentes se agitavam mais.

“Papai!”, pensou a pequena vendo seu pai se levantar dos escombros, ferido pelo impacto e com um rasgou na roupa revelando a armadura por baixo. Logo em seguida, outra criatura entrou pela porta, tão grande que parecia um monstro gigante aos olhos de Irúla, coberto de pelos como um lobo e andando em duas pernas como um humanóide. Porém, era diferente de tudo aquilo que havia anotado e ilustrado no caderno de Nétshe. A besta tinha cascos fendados com os de um bode e um focinho de porco que rapidamente rastreou Irúla e a coberta molhada. Rodantha que a criatura percebeu estava indo na direção da pequena então em um ato de coragem pegou a primeira coisa que encontrou, no caso um vaso de flores, e atirou na criatura o distraindo. O monstro uivou e ia correr na direção de Rodantha, mas Nétshe se posicionou na frente o parando com o cabo da glaive.

—Sai daqui criança!
—Tá bom papai!
—Irúla?!!

Irúla saiu correndo de seu esconderijo subindo a escada com alguma dificuldade por causa do seu tamanho. Rodantha correu descendo a escada e pulou alguns degraus para pegar a gnoma no colo. Enquanto subia, Rodantha sentiu a pequena se agarrar a ela, mas dessa vez não se incomodou e sentiu a vontade de proteger aquela criança a todo custo.

Os pais saíram do próprio quarto por causa do barulho e Rodantha congelou vendo os olhos furiosos de seu pai. Setsuko colocou a mão na boca assustada com a monstruosidade enquanto seu marido a empurrou para dentro do quarto novamente e sinalizou com a mão para sua filha também entrar enquanto mantinha a porta aberta. Em resposta, Rodantha correu com Irúla no colo até que a menina puxou uma das cobras repentinamente a fazendo parar com o choque.

—Cuidado!

Logo em seguida Nétshe foi arremessado contra a parede outra vez pela força descomunal lobisomem.

O caçador pegou uma poção no interior do sobretudo, abriu e bebeu, então suas feridas começaram a se fechar. Logo em seguida ele bebeu outro líquido, fazendo seus olhos vermelhos de fundo preto brilharem como os de um verdadeiro diabo. Ele pulou para cima da besta e bateu com sua glaive de cima para baixo rasgando o peito do monstro. O lobisomem recuou após esta ferida enquanto a górgona correu para o quarto dos pais.

A besta uivou em tom alto e agudo incomodando os ouvidos, mas Rodantha foi a mais afetada de todos. Vendo que conseguiu atordoar suas presas, ele atacou novamente de forma brutal, arranhando e mordendo Nétshe, que não se feriu mortalmente apenas por causa da armadura e os químicos que ingeriu. Nétshe golpeou com o lado oposto da glaive na costela para afastar a criatura e depois cortou com um segundo golpe horizontal, deixando uma enorme “cruz” no peito da besta.

O monstro não tinha poções, mas sabia que poderia se recuperar ao se alimentar então pulou para o segundo andar visando a criança de Nétshe. Rodantha entrou em pânico e usou seu poder para paralisar a criatura, mas não funcionou e recebeu uma pancada na cabeça. Volateus correu para fazer o mesmo que ela, mas a criatura o pegou pelo pescoço e o jogou para baixo, obrigando Nétshe a correr e o segurar para salvar o homem. Setsuko saiu para fora do quarto com a espada herdada de seu pai, fina, leve e curva, feita para cortar de forma ágil. O monstro quebrou a lâmina com os dedos como se fosse um graveto.

Irúla tentava acordar Rodantha enquanto chorava vendo aquela silhueta gigantesca, monstruosa, mutante e ansiosa para
consumi-la. Sua mandíbula estava se abrindo e babando, revelando dentes tão grandes quanto suas mãozinhas. Ela não tinha nenhum deus para qual rezar, se seu pai não viesse a tempo, a besta a devoraria.

—Raaaaaaaaaah!!!

Por trás da figura monstruosa, algo mais terrível surgiu. Pior que uma besta ou um monstro, um ser abissal, ínfero, uma manifestação física do caos e da escuridão. Um ser de chifres e rabo, com olhos vermelhos e portando uma arma de haste, saltando no ar como se pudesse voar e cobrir a luz! Em um golpe final de sua lâmina queimando em chamas brancas como a luz do sol, ele cortou e cauterizou o pescoço do lobisomem, deixando a cabeça cair sobre os pés de Rodantha, que acabará de acordar e ver a cena brutal em sua frente.

O coração da górgona acelerou, vendo o diabólico armado matando uma besta que então retornou a forma humanóide após seu cadáver cair de joelhos e deitado para baixo, revelando-se um humano de pele clara e a cabeça, agora também humana, tinha cabelo castanho escuro. Irúla correu para abraçar seu pai agora que tudo havia acabado enquanto os pais de Rodantha ainda estavam em choque. Rodantha por outro lado… Ela estava passando por um sentimento completamente diferente dos outros. Vendo aquela cabeça humana decepada em sua frente ela não resistiu a pegar com as mãos, fascinada com aquilo.

“Não era tão diferente de cortar um frango ou flores do jardim afinal.”

O Caçador de Monstros não percebeu pois agora estava concentrado em acalmar sua criança e ajudar seus contratantes, mas naquele dia um outro tipo de monstro havia sido criado…

Rodantha – A Górgona Que Jamais Cai

Semanas se passaram sem maiores incidentes para Rodantha e os Grutos desde aquele dia em que teve contato com algo exterior. Rodantha participou de tarefas com outros membros da gangue, mas lentamente formou uma amizade com Turi, Shandor e principalmente Loba. Os três se tornaram praticamente seus mentores e Leo parecia gostar disso, então incentivou os quatro a agirem juntos mais vezes.


Certa noite, após mais uma tarefa bem concluída, estavam todos reunidos na taverna novamente, celebrando como amigos de longa data. Rodantha pediu um copo de cerveja, mas Turi pegou o copo dela e entornou tudo na própria boca, pedindo um suco de frutas para a górgona logo em seguida.

“Turi, por que você ainda não me deixa em paz?”
“Cê ainda é novo demais pra isso.”
“E que diferença faz daqui a dois anos?”
“Você já não vai ser novo demais.”
“…Maldito velho esperto.”

Shandor estava numa mesa mais afastada do resto contando uma história para uma vampira que estava com a cabeça deitada em seu colo enquanto fazia carinho nos cabelos de ume goblin com undercut tingido de branco, cinza e rosa que estava com a cabeça deitada sobre seu ombro enquanto o próprio bardo estava sentado sobre o colo de um humano de pele preta e grandes cabelos crespos que trançava o cabelo do hakin.

“…Então Dantha olhou para eles deixando paralisados, abrindo a janela de oportunidade que eu precisava para golpear com lâmina e… Bam! Bem no coração! Assim vocês três fizeram com o meu.”

Loba estava ganhando algumas moedas apostando contra pessoas que tentavam vencer dela na queda de braço e falhavam miseravelmente.

“Haha! Próximo!”

Durante os momentos de violência e horror, eram esses momentos de paz e diversão que faziam todos ali não desistirem. Mesmo nesse antro de criminosos, isso era um grande reflexo da cultura desse mundo. Araddun é um mundo sombrio e perigoso, mas ainda assim, é um mundo feliz e colorido. Existe uma cultura de encarar o perigo e se aventurar que permeia todas as sociedades deste mundo. E existem pessoas como aventureiros e caçadores de monstros que lutam para manter essa paz para aqueles que não podem ou não querem enfrentar os perigos e medos.

A noite se encerrou em tranquilidade e festa. Rodantha foi o primeiro a ir pra casa, logo em seguida foi Shandor, que foi carregado pelo guerreiro humano enquanto a vampira carregava a goblin. Loba e Turi ficaram a sós com Leo após a taverna fechar.

“Então. Como elu tem se saído?”
“Bem. Bem até demais. Rodantha é… No mínimo cruel eu diria. Ela mudou desde daquele dia…”

Loba balançou a cabeça negativamente.

“Eu não sei porque me preocupo tanto com ela. Talvez eu esteja ficando velha.”

O sátiro sacou um baralho, não muito diferente daquele que algumas pessoas do bar estavam usando mais cedo exceto pelo estilo da arte e por só ter um terço do tamanho.

“Vocês conhecem Hadaoki?”

Ambos confirmaram com a cabeça. Era um jogo popular nessa região portuária e Shandor sabia usar para ler a sorte como aprendeu com os membros mais velhos do seu clã.

“Na verdade, eu também cresci num clã de hakins. Sou um dos muitos órfãos da guerra. Vítima da disputa política de líderes mesquinhos. Eles me ensinaram a ler o passado, o presente e o futuro.”

Ele falava enquanto embaralhava as vinte cartas, então dispondo três cartas sobre a mesa.

“Loba, você não sabe mesmo por que se preocupa tanto? Logo você?”

Ele revelou a primeira carta, com a ilustração de uma mulher hakin encapuzada, sozinha no meio da neve e com uma espada longa na mão. No fundo da carta estava escrito “I – Ordem”.

“Entendo… Um passado solitário. Mas logo em seguida ela…”

O sátiro revelou a segunda carta. Na carta estava ilustrado três figuras levantando suas canecas sobre a mesa, um orc, uma humana e ume hakin. Os três parecem felizes juntos e no fundo da carta estava escrito “III – Grupo”.

“…conseguiu alguns amigos. E isso vai nos levar a…”

Por fim a última carta foi revelada, fazendo Leo parar em um silêncio surpreso e olhar novamente para a primeira. A carta mostrava uma espiral de pegadas começando do centro e indo até a imagem da mesma hakin da primeira carta no topo. A direita havia a silhueta de quatro pessoas, abaixo três e na esquerda apenas duas.

“…ao ciclo sem fim e inevitável.”

Ele olhou nos olhos da dupla de brutamontes.

“Vocês vão morrer.”


……

………


“HAHAHAHAHAHAHA!”

Após o longo silêncio o loiro riu na cara dos dois guardando as cartas. Então incentivou os dois a rirem também, que riram com alguma desconfiança e nervosismo evidente.

“Estão dispensados. Vão pra casa.”

Eles obedeceram. Ambos sabem que seu chefe é uma pessoa perturbada, mas também é estupidamente inteligente e está sempre dois ou três passos a frente quando pensam em fazer algo contra ele. Com uma exceção. Rodantha foi capaz de pegar Leo de surpresa no dia que se juntou aos Grutos. Havia esperança. Alguma esperança. Uma mísera e frágil faísca de esperança. Mesmo sem trocar palavras sobre isso, ambos decidiram agarrar essas faísca e torná-la em uma chama.

Enquanto isso, em sua própria casa, a faísca de esperança estava brincando com o mesmo tipo de carta, com sete cartas na mão, um baralho no meio da mesa ao lado de uma carta com a figura de sete divindades e sete outras cartas dispostas na frente cada uma das três bonecas sentadas na mesa como jogadoras. Todas três pareciam meninas de pele escura, a primeira de bochechas rosas, uniforme acadêmico e cabelo amarrado, a segunda, tinha marcas sob os olhos como os elfos pálidos e era mais alta que as outras e a última tinha cabelos rebeldes, ombros largos e um olhar ousado. Rodantha olhou sua mão. Uma sequência de duas “I – Ordem”, três “IV – Elementos”, uma “III – Grupo” e uma “XVIII – Patrono”. Ela passou uma Grupo para boneca mais alta recebendo outra “Ordem” e aleatoriamente decidiu como elas jogariam sem olhar as cartas. Rodantha então “revelou” sua mão e viu as outras. A primeira boneca tinha três pares de duas cópias da mesma carta, a segunda uma sequência de três e a última quase conseguiu uma sequência de sete, mas acabou não formando nada.

“Parece que venci meninas.”

Rodantha se encostou na cadeira e suspirou largando as cartas.

“Eu queria que falar com as pessoas fosse tão fácil quanto ameaçar elas.”


Após se entediar, recolheu as cartas e guardou em uma caixa de madeira, logo em seguida guardando as bonecas de pano em seu quarto junto com as outras três menores, uma também imitando uma menina negra, de cabelo preto e branco e mais encorpada que as outras, uma avermelhada com uma mexa loira e uma jóia no rosto e uma pálida como os elfos que governam o mundo e costuras nas bochechas. Algumas das serpentes em sua cabeça tocaram as bonecas como se dessem beijinhos no rosto antes dela se retirar para cama. Rodantha pegou o machado ao lado da cama e se deitou armada para o caso de alguém, material ou etéreo, invadir seu quarto novamente. 

Mesmo que o começo de sua saga tenha sido tão intenso, o suficiente para a fazer querer desistir, para considerar-se incapaz, Rodantha não desistiu e conseguiu fazer seu melhor. Embora, bem, nesse caso significa que ele se tornou um dos melhores matadores da gangue de rufiões desta parte da cidade-estado e ainda mais paranoico… Mas o que importa é a mensagem!

A Nova Era

Então, como eu tô finalmente fazendo o que já deveria ter feito a muito tempo que era acabar com tudo e recomeçar com mais organização e planejamento, eu também estabeleci uma ordem que vou seguir dos principais livros que se conectam de alguma forma que vão formar o cânone da Nova Era do Maggieverso.

Todos os livros e contos publicados antes da publicação de Sombras de Araddun no wattpad (incluindo a versão antiga de SdA que publiquei aqui no blog) passam a ser parte do Legado, o antigo cânone que era feito, perdõe o linguajar, a moda caralha.

A Nova Era seguirá a seguinte ordem de publicação começando já nos dois livros sendo publicados semanalmente agora:

Sombras de Araddun (Volume I) & Monster World: Beyond Horizon (Remake de Monster World)

Renascida: Outra Light Novel Com Nome Grande (Remake de Outra Light Novel Com Nome Grande) & Sombras de Araddun (Volume II)

Ocasionalmente também vou publicar as seguintes obras:

O Caçador de Monstros

Rodantha: Uma Saga de Ladrões & Serpentes

A Beligerante

Rinha de Waifu

Lord of the Edge

Sobre OLNCNG, MW e SdA

Pra quem me acompanha no Wattpad já deve tá sabendo que eu decidi encerrar as duas obras. OLNCNG teve a conclusão do seu primeiro volume adiantada. MW foi realmente cancelado. Eu tenho problemas pessoais que me impedem de escrever a história daquele livro. Sombras de Araddun também sofreu com um problema de me escrever muito improvisado num mundo em construção e me perder no caminho, então cancelei essa versão que viram aqui no site e agora estou já publicando no wattpad a versão definitiva, bem planejada e ilustrada.

FÃS DAS DUAS OUTRAS OBRAS, NÃO TEMAM!

Eu já estou produzindo o remake de MW, se chamará MW: Beyond Horizon, contará com um volume fechado de 22 capítulos e o primeiro capítulo estreia no dia 31/10. E o segundo volume será lançado logo após a conclusão do primeiro, previsto para 2022.

Também teremos novidades sobre OLNCNG assim que concluir Sombras de Araddun, com a mesma dedicação e planejamento que estou dando para essa obra.

Além disso outras obras como coleções e séries de mini histórias contínuas escritas como contos que se conectam como “Rodantha” e “O Caçador de Monstros” estão já sendo publicadas ou planejadas para o futuro.

Rodantha – Clamada Pelo Abismo

Rodantha ainda estava em choque. Ela já tinha presenciado violência durante boa parte da sua vida. Ainda assim, ele nunca tinha visto uma cena tão brutal quanto aquela que presenciou durante sua primeira missão em nome dos Grutos.

O que eram aquelas frutas?
O que Leo queria de verdade?

Foi uma armação?

Isso valeu mesmo a prata que pegamos dos corpos deles?

Todas essas questões rodeavam a cabeça da jovem enquanto retornavam para zona oeste de Cirana.

“Ei pirralha. Eu vou perguntar de novo? Você quer viver assim?”

Ainda sem resposta. As serpentes na mente de Rodantha se moviam sinuosamente de um lado para o outro de maneira caótica enquanto a jovem vagava seus próprios pensamentos. Teria como voltar atrás agora?

Os quatro Grutos chegaram em casa. Loba foi tirar satisfação diretamente com seu chefe Leo porque se ele estiver tentando matar ela mesmo não tem que temer provocar a ira dele. Turi seguiu para sua própria casa em silêncio. Shandor perguntou mais vez se Rodantha estava bem, mas não teve resposta, então decidiu seguir para bordel mais próximo para esquecer tudo que viu. Rodantha foi deixado na sentado na carroça até outros Grutos virem buscar os cavalos e despertaram ele na marra. Após uma troca de ofensas, a guerreira seguiu para sua própria casa, uma casa simples, porém elegante, pintada em um tom verde claro, com grades altas e um jardim que era bem mantido pelo antigo dono.

Dentro da casa havia um quadro dos seus pais e outro de seu avô, a organização dos móveis parecia seguir alguma ordem lógica do maior para o menor assim como os enfeites dispostos sobre os mesmos. Da porta, olhando para esquerda você veria o sofá de três lugares de costas para a porta, ao lado de sofá de dois lugares virado para o centro formando um L, então próximo a parede a sua frente veria a lareira, então a direita veria uma porta e uma cômoda com objetos diversos depositados sobre ela e no centro da sala onde estava o tapete veria a mesa com uma mesa de centro retangular com objetos dispostos da mesma forma que a sala em si, quase como um mapa, perfeitamente alinhados de forma a agradar a mente de sua dona.

Rodantha seguiu para a porta passando por um corredor até a cozinha onde havia apenas um prato, dois talheres e um copo sobre a bancada da pia, nos armários haviam que diferente da sala estava uma bagunça por dentro apesar de parecerem impecáveis por fora. Ela abriu a magimáquina de resfriamento, popularmente conhecida como geladeira, pegou um pedaço de queijo de cabra para comer e seguiu para o quarto mastigando. Cory tentou comer um pedaço, mas Maria pegou primeiro e as duas cobras ficaram sibilando agressivamente uma para outra.

“Ah calem a boca!! Vocês nem precisam comer!!”

As cobras se abaixaram ao serem repreendidas. Elas não podem ouvir, mas os cérebros são conectados.

“Cory, cospe fora!”

A cobra regurgitou o pedaço de queijo na mão de Rodantha. A górgona nem se importou muito no momento, só largou o pedaço no chão, então seguiu para o quarto onde desabou na cama. Seu quarto tinha uma cama de casal no centro, na esquerda da cama tinha um armário e na direita, uma cômoda escondendo a mancha esquisita que não conseguiu remover, com um espelho grande do lado. Ao contrário da crença popular, ela não iria automaticamente se paralisar ou petrificar quando olhasse. Ela fez um som de frustração e raiva.

Eu sou fraca!

Fraco!

Fraca!

Fraco!

Fraca!

Fraco!

Fraca!

Porra, eu quebrei na minha primeira missão!

Quebrou!

Quebrou!

Quebrou!

Quebrou!

Quebrou!

Quebrou!

Eu não presto pra isso…

Não presta…

Não presta…

Não presta…

Não presta…

Não presta…

Não presta…

Eu deveria só desistir

Desistir…

Desistir…

Desistir…

Desistir…

Desistir…

Desistir…

.
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TOLA.”

A iluminação falhou, de repente o clima pareceu mudar e o quarto parecia mais quente e no espelho Rodantha pôde ver algo distante, algo colossal, algo sombrio. A sensação de estar diante daquilo era aterrorizante. Alguma coisa no mais profundo âmago dizia que aquilo não pertencia a esse mundo. Um mundo com magia, tecnologia e grandes répteis emplumados, povoado diversos tipos de criaturas, influenciado por deuses e demônios. Mas aquilo não fazia parte de nada disso. Era algo além da sua compreensão.

“Eu não…”
Acredite, tola. Estou bem aqui na sua frente.”

O Arquiduque da Destruição. O Flamejante. Za Drak.

A silhueta se projetou para fora do espelho e então Rodantha se viu pequena perante aquela presença colossal. Apenas a cabeça daquilo preenchia o cômodo inteiro e tudo que ela pode ver claramente através do véu que separa o mundo material do Sonhar e Temor foram um par de olhos amarelos, olhos de serpente como os dela, em uma grande sombra que se projetava quatro vezes para cima como chifres e uma vez para baixo como um longo focinho reptiliano que se mexia como uma boca cheia de dentes pronta para devorar seu minúsculo lanchinho a qualquer momento. 

Rodantha viu seu quarto desaparecer ao seu redor e sentiu como se fosse arrancada da cama e arrastada para dentro da terra por vários quilometros em questão de segundos, então teve uma visão do próprio abismo, um lugar iluminado por uma grande caveira flamejante chama como um sol escaldante, varias montanhas ou torres como espinhos curvos crescendo da terra onde demônios berravam para suas legiões. Então elu se virou para aquele que lhe trouxe ali. Qualquer tentativa do cérebro de Rodantha de entender aquilo era em vão. Ela já viu uma criatura abissal antes, estava ao lado de uma até horas atrás, mas ver Za Drak dentro do próprio abismo era diferente. Era como se vários titãs tivessem cruzado entre si ou sidos costurado juntos como retalhos, dando origem a um ser que é o resultado da mistura de todos eles. A cabeça longa e fina como a de um pé de foice, com uma boca cheia de dentes afiados de até 30 cm como um trovejante, terminando no bico afiado como de uma águia devoradora de gente e ornamentada com quatro chifres como os de um titã de chifres. Seu corpo massivo e coberto de escamas desafiava a ordem natural pois além das quatro patas com garras afiadas o sustentando como as patas de um velejante, tinha um par de asas membranosas como as de réptil voador, mas com quatro dedos e um único esporão se estendendo para frente como uma deturpação da figura sagrada dos morcegos e terminando uma cauda capaz de chicotear alguém para longe como a de um pescoço-longo. E quando ele falava em sua voz lenta, grave e rouca, brasas surgiam entre seus dentes.


Eu escolhi você, criança. Não me decepcione.”

A górgona sentiu sua alma ser jogada de volta para o corpo novamente, então seu corpo começou a se retorcer e se mexer na cama enquanto agarrava os lençóis com tanta força que rasgou alguns pedaços e as cobras em sua cabeça igualmente se retorciam e sentiam as escamas coçando e queimando como se estivesse trocando de pele. Ela sentia seu coração pulsar com tanta força e velocidade que parecia que ia morrer, então quando finalmente conseguiu falar alguma coisa tudo que ela pode gritar foram palavras incompreensíveis para qualquer outro. Mas não eram pedidos de socorro.

“YSS!! YSS!! DEMBA ROKU!!! ZA ROKU ZAT IN MORU!!!”

Rodantha despertou em sua cama horas depois. Sua parte humana lhe fez suar frio. Sua parte serpente fez ele salivar tanto veneno que sua boca estava molhada e pegajosa. Ele se levantou olhando para o espelho com medo, mas não havia mais nada ali, nenhum rastro de que aquilo realmente aconteceu. Se foi real ou não, o górgon não sabe, mas aquilo causou um impacto e marcou para sempre seu coração.

Rodantha passou mais alguns momentos olhando para aquela direção até que pegou o machado que guarda em baixo de sua cama por razões que fazem sentido em sua cabeça e se dirigiu para onde estacam a cômoda e o espelho. Após reconsiderar mais pouco, ele progrediu em retirar todos os objetos de dentro das gavetas e logo em seguida começou a golpear a madeira com o machado até o móvel ser reduzido a nada mais do que lenha para sua lareira. Por fim, ele finalmente relaxou suspirando e jogou o machado encima da cama junto com as roupas, livros e outras coisas, coincidentemente caindo nas mãos de uma boneca de pano que parecia uma menina pálida de cabelos longos e cacheados com costuras nas bochechas.

“Eu ajeito isso depois.”

Rodantha tomou um longo banho para se recuperar, trocou de roupas colocando um chapéu preto e um vestido roxo longo com sapatos simples. A armadura de couro dos Grutos quase não aparecia por baixo do vestido a distancia, mas era possível notar olhando de perto. Ele seguiu para a sede de sua gangue onde Leo com seu pagamento, a mesma taverna onde se conheceram. Chegando lá o clima no geral era agradável, viu Leo sem camisa em uma mesa com uma dríade com uma copa enorme como a de uma arvore de savana sentada sobre seu colo e o beijando, mas também viu que Loba estava bebendo sozinha, tensa, segurando copo de vidro de forma que parecia que poderia quebrar com as mãos a qualquer momento. A bárbara notou Rodantha chegando também e apenas meneou a cabeça negativamente e olhou para baixo, sentindo-se impotente. O que o frágil sátiro poderia fazer contra aquela gigantesca humana? Nada. Mas ainda assim, alguma coisa que ele disse ou fez foi capaz de intimidá-la a este ponto. Rodantha achou isso interessante.

Elu se aproximou, notou a tatuagem no dorso de seu chefe e os três pontos pretos embaixo dos olhos da dríade, então ficou de braços cruzados esperando ele ou a dríade notarem sua presença.

“Oh, menine Esmeralda! Bem vinde! Já conhece minha namorada Iuma? Iuma, essa é aquela pessoa que te falei.”

“Muito prazer!”

“O prazer é todo meu, senhorita. Mas…”

“Ah, claro. Aqui, sua parte!”

O líder da gangue jogou o saco de moedas e Rodantha pegou com facilidade. Mas ela queria mais. Não eram respostas, se Loba não deve ter conseguido, ela também não conseguiria.

“Eu quero uma tatuagem.”

“Como?”

“Eu vi que todos vocês tem alguma tatuagem. Até você.”

Ela apontou para o loiro com chifres.

“Não, quero saber como quer. É minha Iuma aqui que faz, ela é uma artista e tanto.”

“Excelente. Podemos fazer agora.”

“Agora?”

Ela olhou para seu namorado como se dissesse “essa ai não tem noção não?” e ele riu dando de ombros.

“Vai lá, eu vou tá aqui te esperando docinho.”

Iuma riu e concordou. Ela seguiu com Rodantha para seu estúdio ilegal nos fundos da taverna. Rodantha se sentou de costas na cadeira e abriu a parte de trás do vestido sem expor a frente.

“Desenhe o símbolo de Za Drak.”

“Oh, temos uma trevosa aqui! Hahahaha! Sério, o que você quer?”

“Eu não estou brincando.”

Iuma esbugalhou os olhos surpresa. Ela já atendeu outros umbranistas, mas ninguém nunca tatuou o símbolo de um Arquiduque em si. É como dizer que seu corpo e alma são devotados a aquele ser.

“Tá bom…”

Porem Rodantha não sabia que as tatuagens feitas por Iuma também não eram brincadeira. Ela estalou os dedos e vinhas surgiram amarrando os braços e pernas de Rodantha.

“Ei, que porra é essa?!”

A dríade não se importou. Ela começou a cravar e queimar a pele escamada de Rodantha com sua tinta arcana permanente marcando as costas dela com o símbolo de um serpente alada com quatro chifres formando um circulo se alcançando sua própria cauda. Rodantha resistiu a dor pois sentiu coisa muito pior hoje, mas ainda assim lacrimejou porque era como se milhares de presas de aranhas perfurassem sua pele enquanto a bruxa fazia sua arte.

“Pronto. Nem foi tão ruim, né? Chorou menos que o Shandor.”

Ela soltou Rodantha e voltou para seu namorado dançando com o som da musica da banda forma pela barda humana de camisa preta, calça jeans e estranhas botas grandes demais para ela e seus elementais de terra, vento e fogo que estavam tocando na taverna agora, deixando Rodantha exausta na cadeira.

Quando teve forças, Rodantha se levantou e então olhou para tatuagem em suas costas no espelho. Ela se recompôs e seguiu abrindo a porta com força para então seguir até Loba e se sentar ao lado dela.

“Sim.”

Rodantha apontou para tatuagem nas costas ainda parcialmente visível com o vestido fechado.

“Eu tenho certeza que quero continuar.”

Loba riu e meneou a cabeça, então deu um tapa no ombro dela sem se importar que ainda deveria estar dolorido.

“Bem vinda aos Grutos de verdade, pirralha.”

Continua em “Rodantha – A górgona que jamais cai

Rodantha – Negociante de Morte

Rodantha foi admitida na gangue dos Grutos após impressionar seu chefe com prata e violência. Sua perna agora já se recuperou graças ao curandeiro da gangue, mas a gorgona vai se lembrar de tentar não tomar outro tiro. Não demorou muito até que fosse chamada para um serviço após se recuperar.

“Rodantha, né? Tenho uma coisinha que precisa da sua ajuda.”

Rodantha esperou com expectativa nos olhos, mas Leo, o sátiro loiro líder da gangue,não notou pois evitou olhar novamente naqueles olhos de cobra. Ele prosseguiu assumindo que Rodantha era do tipo silenciosa assim mesmo.

“Nós temos uma carga para entregar na zona leste de Cirana, fica a dois dias de viagem de carroça. Ida e volta. Já que dois dos rapazes que iram fazer parte disso tiveram um infeliz incidente no bar, precisamos desses seus brações ai para ajudar em dobro. Acha que dá conta?”
“Eu nem estaria aqui se achasse que não consigo não é?”

Leo riu. Ele acha que ela não vai voltar, mas se voltar, terá realmente provado seu valor. O sátiro deu dois toques no ombro de Rodantha, o que visivelmente incomodou ela pela reação agressiva das cobras em sua cabeça, mas a gorgona pediu perdão e amarrou suas seis serpentes mais agressivas para trás da cabeça como sempre fez. O dia passou sem mais preocupações para Rodantha, terminando no primeiro dia de sua rotina de fazer exercícios, tomar banho e tomar um copo de leite 30 minutos antes de dormir. No dia seguinte estava bem descansada para a viagem que viria e se vestiu com sua nova armadura de couro, então a camisa branca e calça preta por cima, com Corey, Nathan, Eric, Joakim, Derrick e Jamison presos de forma a não incomodarem outras pessoas e atacarem qualquer um que tente chegar por trás de Rodantha. Duas batidas fortes na porta interromperam o alongamento de Rodantha que ainda estava se acostumando com seu novo equipamento.

“Tudo pronto novato?!”

Rodantha abriu a porta com a mão direita deixando sua outra mão oculta, seus olhos encontraram os do orc careca e tatuado nos braços que tinha uma cicatriz horrível no rosto, muito provavelmente feita por algum titã, como são chamados os grandes répteis emplumados nesse mundo.

“Sim. Só vou pegar minha arma.”
“Tu é o novato que o chefe falou? Tu não passa de um palito com cobras na ponta!”
“E você fala muito para alguém prestes a ser capado.”

Ele olhou para baixo ao sentir toque do metal na sua perna. A foice de Rodantha estava na sua mão esquerda, próxima a virilha do orc. Ele instintivamente se afastou e a gorgona recuou sua lamina para a altura do peito, para se defender caso ele atacar.

“Eu observei a armadura que usamos e notei que protege bem o dorso, braços e as pernas, mas deixa a desejar em alguns lugares.”
“Hehe. Garota esperta.”

Quem falou foi uma humana, ruiva, mais velha e mais muscular que a jovem Rodantha. Seu corpo também era tatuado e seu dorso sem armadura estava coberto por uma pele de urso, lembrando a própria deusa ou giganta que Rodantha ouviu falar nas lendas do norte, Bezurga Peledurso. O orc era duas ou três cabeças mais alto que ela e ainda mais forte, de pele verde escura, protegido com uma armadura de couro por baixo da camisa amarela clara assim como Rodantha e seu chefe.

“Então, podemos ir Turi?”
“Claro… E vê se não arranja problemas novato.”

Rodantha deu de ombros e seguiu os dois. Na carroça tinha mais um esperando para começarem a carregar as caixas para dentro, um hakin de chifres encaracolados, cabelo preto liso e longo e pele roxa, muscular e esguio assim como o górgon, com uma rapiera na cintura e uma camisa meio aberta deixando o peitoral sem armadura a mostra com a tatuagem também a vista. Assim que viu a humana lhe ofereceu uma rosa de forma elegante, mas ela passou direto o ignorando e começou a trabalhar. Logo em seguida ele viu Rodantha, passou direto pelo orc e veio se apresentar fazendo um gesto exagerado como se fosse um nobre, mas tendo ela nascido na nobreza, foi fácil ver que era a imitação de um charlatão.

“Shandor Vollonik, vulgo Lamina, muito prazer.”
“Rodantha O’ Mera, vulgo Esmeralda, igualmente.”
“Oh pela Noite! Outro Shandor não!”
“Ah, Turi, você só está com inveja porque eu consegui ume aprendiz e você não.”

Rodantha revirou os olhos e ignorou Shandor, seguindo para trabalhar com a humana. Turi olhou para a cena, então olhou para Shandor surpreso e frustrado e riu alto da cara do companheiro de gangue.

“HAHAHAHAHAHA Acho que foi Loba que ganhou ume aprendiz, não você!”

Enquanto entregava uma caixa para Loba e os outros dois se aproximavam para ajudar, a jovem novata não conseguiu segurar a curiosidade.

“Porque uma pele de urso se te chamam de Loba?”

Loba deu uma única risada enquanto recebia a caixa com seus braços também marcados por cicatrizes.

“Mais tarde eu te mostro pirralha.”

Os dois homens ajudaram a carregar as caixas para dentro da carroça. Rodantha sentiu pena dos cavalos que teriam que puxar duas pessoas enormes e todas essas caixas carregadas com sabe se lá o que. O tempo passou na viajem com os três veteranos conversando enquanto Rodantha permaneceu calado até que um assunto chamou sua atenção.

“Então, alguém sabe o que tem nessas caixas?”
“Cala boca, Shandor!”
“Eu também quero saber, Turi.”
“Você não tem que saber de nada novato, só trabalhar!”

As serpentes se agitaram, mas Loba lançou um olhar severo para ele e Rodantha se controlou.

“Está bem…”

Se ela se revoltar são 3 contra 1. Obviamente não valia a pena tentar. Por agora…

Chegada a primeira noite, deixaram os cavalos descansarem e armaram acampamento. Turi conseguiu lenha e preparou a fogueira, Shandor e Rodantha prepararam as barracas com alguma dificuldade causada pela falta de experiência da gorgona e Loba sumiu por algum tempo, voltando com um cervo nas costas e sangue fresco na boca e mãos. Rodantha pensou que talvez não tivesse notado antes, mas prestando atenção viu que Loba realmente não tinha orelhas pontudas ou caninos alongados, ela não era uma vampira ou filha de um. Quando a nórdica deitou o cervo no chão, Rodantha pôde ver que o pescoço foi cortado com dentes, na jugular…

“…como uma loba faria.”
“Hehe! Agora entendeu pirralha?”

Durante o acampamento, o mesmo clima de companheirismo dos Grutos de longa data permeava o local, deixando a novata silenciosa excluída enquanto comia um pedaço de carne e bebia bebidas sem álcool, já que mesmo que quisesse beber a cerveja também, Turi não permitiu. A adolescente queria uma forma de mostrar para eles que não era mais criança e fez exatamente o que todo adolescente faria nessas horas: agiu como criança.

“Que tal a gente fazer uma aposta então, Turi? Se eu te derrubar, eu posso fazer o que eu quiser sem você ficar me tratando como se eu tivesse 10 anos.”

O orc riu alto. Talvez fosse o álcool fazendo isso, mas ele parecia bem mais simpático agora.

“Quer saber? Que se dane! Eu aposto que você não me derruba nem se encher a cara ahahahahaha! Se eu te derrubar, você vai ter que me respeitar como seu segundo em comando!”

Ele bateu a caneca no banco improvisado com um tronco caído e se levantou. Rodantha se levantou também, se sentindo pequena pela primeira vez em muito tempo já que sempre teve uma estatura acima da média. Ambos estavam desarmados. Turi obviamente tinha a vantagem da força enquanto Rodantha tinha a agilidade. A górgona tomou a inciativa golpeando o orc com um chute na perna para o derrubar, acertando a lateral da panturrilha com o peito do pé com toda força, mas o veterano pareceu nem sentir e bocejou por puro deboche.

“Minha vez.”

O orc deu um único soco que derrubou ela no chão. A jovem apagou e acordou momentos depois ainda delirando, sendo cuidada por Shandor, enquanto Loba dava uma bronca em Turi. Naquela noite, o górgon aprendeu a respeitar seus limites e veteranos.

Mais um dia de viajem e chegaram ao seu destino, uma região mais pobre da cidade-estado, mais para dentro do continente e longe da região portuária a oeste onde fica a base dos Grutos. Loba assumiu a liderança na hora de falar com os compradores que estavam os esperando enquanto Shandor a auxiliava e Turi e Rodantha faziam a guarda, trocando olhares com os diversos outros bandidos ali armados e prontos para atacar a qualquer momento se os Grutos fizessem algum movimento estranho ou se o líder deles mandasse. A novata não estava prestando muita atenção na conversa até perceber que humana estava ficando irritada com os dois elfos das profundezas e o hakin tentava a acalmar, mas parecia ter piorado a situação.

“Mas que merda! Vocês não queriam essa porcaria toda?!”
“Tá maluca sua selvagem? Essa coisa aí é letal! Nós não pedimos por isso!”
“Teu chefe quer foder a gente!”
“Loba, calma, vamos…”
“Fica fora disso ou me ajuda porra! A gente trouxe essa merda toda até aqui a toa então?!”

Rodantha se aproximou tentando não parecer uma ameaça e chamou Loba para perto. A mulher ogrinjörana se abaixou para o górgon falar no ouvido dela.

“Eles já pagaram pela mercadoria?”
“Se tivessem pago, eu taria pouco ligando para o que fizessem com essa merda toda aqui!”
“Então… O chefe só mandou trazer até aqui e voltar com o dinheiro não é mesmo? Ele nunca disse que precisávamos vender. Disse?”

Loba fez uma expressão surpresa com as palavras de Rodantha, então sorriu com malicia.

“Mudança de planos rapazes!”

Loba se pôs de quatro e começou a mudar na frente de todos ali com seus músculos crescendo e mudando de forma dolorosamente, um dos bandidos agora rivais atirou, mas a bala foi dividida no meio pela lamina fina de Shanor fortalecida por sua magia. Shanor balançou a rapiera no ar fazendo movimentos quase como uma dança e isso inspirou seus aliados, fazendo se sentirem mais fortes, mais aptos para lutar. A bárbara uivou reforçando o efeito moral da arte marcial de Shanor e intimidando os inimigos, se revelando uma licantropo vestida com uma pele de urso que então atacou o primeiro inimigo a sua frente. Outro atacou Rodantha por trás e sofreu com a reação das serpentes que ele deixou preparadas para isso, que além de atacarem o dríade, também alertaram o górgon para ele golpear seu inimigo em um contra-ataque com a foice. Mais um dos bandidos atirou com uma bésta, mas Turi defendeu sua cabeça com seus braços fortes e tão grossos quanto uma cabeça humana, parando a flecha em seus músculos e aguentando a dor.

Os bandidos decidiram fugir vendo seu líder sendo devorado pela besta interior da bárbara, correndo e atirando com bestas e pistolas, porém Turi tomou a frente e protegeu seus aliados com o corpo e Shanor logo em seguida veio girando a lamina com o pulso, então colocando dois dedos nos próprios lábios e em seguida tocando em Turi para curá-lo.

“Até o jeito que você faz magia é irritante.”
“Não foi o que seu irmão disse.”

Rodantha se lembrou de ouvir eles falando que o carregamento era letal, então teve uma ideia. Ela correu para as caixas e abriu. Era algo como uma fruta, porém escurecida como se tivesse apodrecida, com espinhos saindo de dentro e exalando um fedor de cadáver. Ela ia pegar com sua mão direita, então repensou e decidiu arriscar a mão não-dominante tocando naquela coisa e rapidamente atirou para direção dos inimigos, errando por usar sua mão esquerda, mas assim que a fruta, ou seja lá o que era aquilo, colidiu com o chão ela explodiu e atirou espinhos para toda parte. Os elfos e dríades atingidos sofreram o que parecia ser uma infecção com seus olhos, boca e narizes liberando lágrimas, saliva e mucosas até sangrar enquanto gritavam em agonia, dor e medo. Os que tentaram arrancar os espinhos do dorso viram seus orgãos sendo puxados para fora junto ou vazando para fora crescendo como um parasita dentro de si.

O bardo não aguentou a cena, mesmo tendo visto sua companheira se tornar uma besta e literalmente devorar a carne de uma pessoa, ele ainda assim regurgitou vendo a cena de horror que a novata causou. Até mesmo a bárbara licantropo estava com o rabo entre as pernas vendo aquilo. O lutador abaixou os braços vendo que quase todos os inimigos estavam mortos ou morrendo. A guerreira no entanto, não esboçou nenhuma grande expressão além arquear as sobrancelhas e abrir mais os seus olhos verdes como esmeralda.

“Filho da puta…”

Loba falou finalmente, sua voz soou como um mistura gutural de voz humana e rosnados lupinos.

“Uma turbulência na estrada e a gente tava morto. Se a gente tivesse jogado as caixas um pro outro, a gente tava morto! O Leo sabia disso com certeza!”

O hakin se levantou limpando a boca com um lenço.

“Você acha que ele armou contra nós? Eu não acho que fizemos nada que desagrade muito ele. Não ao ponto de nos querer mortos, eu acho.”
“Não… Vocês estão olhando isso do jeito errado. Somos só peões na mão dele.”

O homem verde e muscular se virou para a pessoa com serpentes na cabeça ainda em choque pelo que fez.

“Elu. Leo queria testar ê garote.”

Loba se destransformou, tirou sua capa de urso expondo o dorso todo marcado de batalhas e cobriu os ombros Rodantha com seu manto.

“Essa é a vida que você escolheu. Esse é o tipo de corpo que vai ter se seguir esse caminho. Essa é o tipo de merda que vai ter que fazer se continuar com a gente. Você será uma negociante de morte como nós. Tem certeza de que quer isso Rodantha?”

Ela não respondeu ainda.

Continua em “Rodantha – Clamada pelo Abismo

Rodantha – Olhos de Esmeralda

Rodantha é uma górgona de linhagem nobre, filha de um casamento arranjado de pais que nunca se amaram de verdade. Sua mãe uma humana, filha de um guerreiro nobre vindo do insular e montanhoso Menko, seu pai um górgona como Rodantha, um barão tentando entrar para o conselho da cidade-estado de Cirana. Sua pele escamada é clara e amarelada e seus “cabelos” são serpentes venenosas são verdes, assim como seus olhos de pupilas estreitas e verticais, capazes de paralisar outras criaturas. Amaldiçoada ou abençoada pela demonesa Utag’Jil, criadora das górgonas. Infelizmente para a menina com olhos e serpentes cor de esmeralda, as cortes do Império Argênteo eram cruéis em suas disputas de poder e manipulações. Através de anos de esquemas e corrupção, o nome dos O’ Mera foi jogado na decadência e toda sua riqueza perdida em tentativas fúteis de recuperar o poder. Brigas eram constantes na casa e Rodantha passou a viver com seu avô, que a treinou e ensinou as filosofias que foram ensinadas a ele mesmo até que ele faleceu pela idade e Rodantha decidiu fazer seu próprio caminho, ainda adolescente.

Mas Rodantha não deu muito ouvidos ao que seu avô lhe ensinou além de usar armas, palavras e atos para alcançar seus objetivos. Essa não é a história sobre heróis. Esta é uma historia sobre prata, gemas e traições…

“Como você se chama garota?”

Perguntou o sátiro loiro com chifres e orelhas enfeitados com adereços de prata. Um homem de 30 ou 40 anos, barba mau feita, camisa roxa meio aberta mostrando o peitoral muscular e uma calça cinza escuro de cintura alta. Ele estava sentado em frente a uma mesa de madeira com dois homens armados em pé, um humano e um elfo da floresta, dentro de uma taverna onde outros estavam bebendo e se divertindo, provavelmente por serem aliados daquele homem e não ter com o que se preocupar.

“Rodantha O’ Mera. E eu não sou só uma garota.”

Rodantha já tinha um corpo muscular em seus 16 anos, treinado para ser ágil e forte. Bela e mortal. Já sabia que era ambos garota e garoto nesta época e suas roupas refletiam isso, roupas comuns entre nobres vampiros e piratas que queriam aparecer para interesses amorosos no porto, compostos por uma camisa branca, uma calça preta de cintura alta e botas. Em sua cintura, uma foice originalmente feita para cortar vegetais no jardim de seu falecido avô.

“E o que você tem a me oferecer? Pelo seu sotaque você é do norte, não é? Tu é jovem demais para servir como um rosto bonito e nós temos braços mais fortes por aqui.”

O górgon levou sua mão a cintura, os guardas estavam prontos para atirar se necessário, mas Rodantha jogou uma bolsa de moedas na mesa, deixando as peças de prata estampadas com o rosto do imperador imortal Élrik caírem e rolarem até o sátiro parar uma delas com o dedo.

“Oh… E o que uma princezinha rica como você está fazendo em um lugar como essa espelunca? Perdão, devo chamar você de princezinha rica ou principezinho rico?” “Ambos está bom. Eu quero armas. E trabalho. Eu posso fazer muito mais prata com algo melhor do que essa foice.” “Que tal se me mostrar então?”

Quando o sátiro notou a jovem já estava com a mão em seu pescoço. Ele cometeu o erro de olhar nos olhos dela desprotegido. Rodantha pegou sua foice e puxou o sátiro pelo pescoço rapidamente para o usar de escudo quando um dos capangas atirou com a pistola. Outro atirou por trás, mas as serpentes de Rodantha viram, dando a ele a chance de desviar do tiro. Logo em seguida ela correu usando o sátiro ainda paralisado de escudo para cima do guarda a direita e cortou seu pescoço com a foice fazendo sangrar.

O taverneiro gritou surpreso, as pessoas ao redor estavam assustadas, tudo aconteceu muito rápido, em menos de 30 segundos tudo havia se tornado um caos. O outro guarda não sabia o que fazer, não sabia nem se seu chefe estava vivo ainda. Ainda assim, ele não poderia deixar ela fugir e se fosse o ultimo sobrevivente desse conflito poderia usar isso para ganhar reputação e respeito. O bandido atirou, mas o gorgon jogou seu refém na frente ao mesmo tempo, assustando o fora-da-lei e fazendo ele atirar para baixo, atingindo Rodantha na perna. Ele caiu sentindo dor, já leu ouviu falar, pensava estar preparada, mas não esperava que fosse tão quente e doloroso na prática. O humano preparou sua arma de fogo para finalizar a gorgona, mas o sátiro ainda vivo juntou forças e levantou o braço para abaixar a arma dele.

“De repente surgiu uma vaga de guarda-costas não é mesmo? Parabéns princesa, tá contratado.” “O que?! Porra! Ela matou o Denny!”

O sátiro ainda no chão atirou e atingiu a cabeça do humano.

“Duas vagas agora.”

Ele levantou sentindo dor, porém mais acostumado e mais bem preparado que a jovem, então ofereceu a mão para ajudar ela.

“Leonardo Virantes, muito prazer. Como deve ter visto, eu só tenho uma regra na minha gangue: Não me desobedeça.”

Rodantha olhou para o humano morto pelo tiro de seu antigo chefe, ela estava com dor demais para responder verbalmente, então apenas confirmou com a cabeça.

“Ótimo! E uma dica:”

O sátiro abriu mais a camisa mostrando que estava usando uma armadura de couro batido com placas de metal no peito e costas por baixo das roupas.

“Sempre use uma proteção por baixo da roupa.”

Após conseguir juntar forças, Rodantha sorriu para o seu novo chefe de gangue e olhou nos olhos dele novamente, mas dessa vez sem intenção de utilizar sua habilidade.

“Valeu chefe.”

“Ah! Mais uma coisinha. Princesa ou Príncipe não dá certo para você. Que tal se a gente te chamar Esmeralda? Como os olhos sabe?”

O sátiro riu alto e então bateu nas costas de Rodantha.

“Muito bem, Rodantha Olhos de Esmeralda. Eu gosto disso! Bem vindo aos Grutos!”

“Olhos de Esmeralda” ou apenas “Esmeralda”. Era assim que a jovem Rodantha O’ Mera ficou conhecida nesta época de sua vida. Mas aquele guarda-costas não foi o primeiro nem o ultimo que matou e esta era apenas o começo de sua carreira como capanga da gangue dos Grutos.

Continua em “Rodantha – Negociante da Morte